Tão pequeno e tão gasto
o sonho humano na terra.
Não é fácil fazer arroz doce.
Mais difícil é a poesia.
É preciso coadunar palavras,
imagens, sons e tempos.
É preciso esperar que o poema aquiete,
acocore na manjedoura
e acorde depois – límpido de trovoadas.
Mas, por vezes, o poema é tempestade.
Não há guarda-chuva que resolva.
Para-raios que proteja. O poema evapora
noutras paragens, dentro do breu das estradas.
Vai pelo mundo – irredento.
Só volta anos mais tarde.
Senta defronte da mesa. Silencia.
Come arroz doce, sobremesa da janta.
Depois
– longe, na beira do oratório –
ouve baixinho a reza da mãe.
Isto é poesia,
meu filho.
Poema do livro Memorial dos meninos | Rudinei Borges | 2014