O passado anunciado

Não desconfio do meu passado. Irresoluto.
Herói da terra. Herói do mar.
Eles não sabem que a fome das tardes
alimentou o meu útero
e o meu menino vive em mim. Aguerrido.
Os casarões que povoam a minha memória
foram registrados num cartório
da Rua Getúlio Vargas
no dia 18 de janeiro de 1983.

Não sabem que nosso pai esteve lá
com um luzeiro. Taciturno.
e me contou o segredo das coisas.

Não sabem que esta noite
partirei para a África.
Com Rimbaud.
E que aos vinte e sete anos amarei o mundo
mais que um ancião – eles não sabem.


O passado anunciado | Poema do livro Memorial dos meninos | Rudinei Borges | 2014