Cântaros aos rés do chão
quando vem chuva.
Carretéis.
Agulhas.
Sussurro trigueiro do
tempo.
Velha máquina de
costura na casa da vó.
Os pés de algodão vão crescer no quintal.
Os pés de algodão vão crescer no quintal.
Com os anos os filhos
trarão os netos.
Os meninos transformarão
o barro em poeira.
O passo quieto ganhará
calçadas.
O beco. A rua. O cais.
O mundo.
Mas quem de nós vai
laçar a morte primeiro?
Quem vai velar a mulher
que carregou os filhos
no ventre, nos braços, na vida?
Desvendar o que vem
depois do assalto de sono
traz uma tristeza sem
nome.
Depois de plantar
e colher e
plantar
e colher
resta – ao alcance dos
olhos – o campo vazio.
Não sobeja sequer o
alvitre do milharal.
É preciso fazer tudo
de novo.
Até que retornem às
mãos dos meninos
grãos de milho
amadurecidos.
A lida é ária
contínua.
O que esperar? O altar
está posto. O candeeiro aceso.
Vamos colher espinhas de peixe,
pôr os dedos para
dentro da cumbuca com farinha
e molhar a goela com
água. Cachaça talvez.
Os meninos conversarão
sobre barcos que partem.
Rezarão aos santos. A
mãe olhará pela última vez
o retrato da Virgem.
Mãe, como Francisco
Orellana
desbravou o Rio
Amazonas
e Pedro Teixeira o
Tapajós?
– o menino
perguntará.
A mãe continuará a
olhar a Virgem.
Dorme, menino – dirá a
mãe.
Amanhã é outro dia.
Assim
descansam os
tamboretes
remendados na
sala.
Num ar-
cabouço de suspiros e
sonhos.
No fim das contas,
resta alhures
o acalanto álacre da penumbra.
Tamboretes| Poema do livro Memorial dos meninos | Rudinei
Borges | 2014